Cosme de Farias: Um advogado sem diploma, um major sem
exército.
"Numa certa feita, em metade do século XX, estava na plateia
durante o júri de um acusado de homicidio, crendo que este estava sofrendo
injustiça, ele se levantou e começou a andar pelo Tribunal do Júri, cabisbaixo,
como se tivesse perdido algo, quando foi questionado sobre o que estaria
procurando e ele prontamente respondeu: “A Justiça, meu senhor, que nesta casa
anda escondida”
O título de cara já surpreende. Como pode alguém ser advogado
se não tem diploma, ou major se não está no exercito? Pois essa é a história de
Cosme de Farias, advogado, jornalista, poeta e militante de causas políticas e
sociais. Nasce em 02 de abril de 1875, em Salvador, mais precisamente em São
Tomé de Paripe. Naquele tempo, era possível que um juiz credenciasse alguém que
achasse capaz a advogar mesmo sem diploma . Sua história como advogado começa
aos 19 anos, em outra história intrigante desse homem folclórico e heroico ao
mesmo tempo.
“Certo dia, o juiz
Vicente Tourinho perguntou à platéia quem poderia defender um ladrão abandonado
pelo advogado à beira do júri.Um rapazola mulato, traços grosseiros e cara de
menino ergueu-se e respondeu: "Eu". O voluntário não conhecia o
processo e nunca encontrara o réu - negro e pobre, acusado de roubo de 500 réis
- mas não concordava em vê-lo sem dar a sua explicação sobre os fatos. Aceitou
o desafio, passou os olhos nos autos e livrou Abel Nascimento da prisão
argumentando que a falta de oportunidade na vida o conduzira ao crime”. Inventou
ali mesmo uma história sobre o réu que fez todos ali presentes chorarem, e
assim conseguiu que o acusado fosse absolvido por unanimidade.
Diz-se que defendeu mais de 30 mil processos em seus quase
100 anos de vida, “sempre na defesa, independentemente da infração e das
condições financeiras do réu. Foi apontado como o campeão de habeas-corpus da
Bahia, quiçá do país”.
Possuía apenas o primário, e mesmo assim teve carreira
brilhante como jornalista, atuou com força na luta contra o analfabetismo e era
profundo conhecedor da língua. Em uma das histórias sobre ele, diz-se que
chegou a desbancar uma das grandes estrelas do direito no Brasil na época,
Monteiro de Barros. “Trazido de São Paulo por exportadores para acusação do
estivador José Heliotério por homicídio de um jovem rico, filho de empresário
das docas, o bacharel começou o pronunciamento com uma conjugação errada do
verbo supor, fato que passaria incólume se não estivesse na defesa do réu o
velho Cosme. O baiano corrigiu em público o erro e ressaltou que o adversário não
dominava a língua portuguesa nem para citar o livro de direito, enquanto ele,
um rábula, era presidente da Liga Baiana contra o Analfabetismo. O historiador
Cid Teixeira garante que, escabreado, Monteiro de Barros desistiu de falar.”
O título de Major, que podia ser comprado naquela época, foi
adquirido por um grupo de amigos que o presenteou com o título. Homem digno,
adotava a ideia de que ninguém nasce mau, mas que é a sociedade que corrompe o
homem. Como jornalista, chegou a escrever para quase todos os jornais da
cidade, e seus textos era sempre muito aguardados. Sempre lutando pelas causas
sociais, lutava pela melhora das condições da cidade e da população também através
de suas publicações.Para Cosme, o jornalismo servia como mecanismo de difusão
de suas ideias e de mobilização e
conscientização da sociedade.
Foi sem duvida uma das figuras mais marcantes da Bahia no século
XX. Hoje dá nome ao bairro Cosme de Farias, um dos bairros mais populosos,
situado na região de Brotas.
“Na Bahia, quem rouba um tostão é ladrão. Quem rouba um
milhão é barão".
Cosme de Farias
Fontes:
http://advivo.com.br/blog/luisnassif/o-advogado-cosme-de-farias
CELESTINO, Mônica. O jornalista Cosme de Farias e a imprensa como
instrumento de mobilização em Salvador
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